Ao apoiar os beneficiários da Estratégia de Interiorização, trabalhador da OIM também vê sua história de vida impactada
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Boa Vista – Há quatro anos, quando ainda morava na Venezuela, Heldrid Couttiller não imaginava que um dia faria parte de centenas de histórias de reencontros no Brasil. Pouco depois de chegar em território brasileiro, ele começou a atuar no suporte a refugiados e migrantes venezuelanos que, igualmente a ele, viram no país uma oportunidade de recomeçar.
Em 2018, ao ir para Boa Vista, capital roraimense, Heldrid trouxe na mala a esperança de ajudar a família e o currículo, descrevendo anos de experiência no Ministério Público venezuelano em casos de proteção de mulheres, crianças e grupos mais vulneráveis. À época, a resposta humanitária ao fluxo migratório da Venezuela, por meio da Operação Acolhida, dava os primeiros passos.
Quando se recorda de quando chegou à OIM, Agência da ONU para as Migrações, a lembrança ainda é muito viva. “Lembro bem. O meu contrato em um antigo trabalho com dados tinha acabado, então deixei meu currículo na Organização, sonhando com uma oportunidade. Primeiro pensei que não teria chances, mas acabei sendo chamado para uma entrevista. Nossa, que surpresa! Hoje estou há três anos na OIM”, recorda.
Heldrid entrou para a equipe de interiorização, apoiando a estratégia do governo brasileiro que leva voluntariamente refugiados e migrantes venezuelanos de Roraima para outras localidades do país. Durante os anos na OIM, esteve na parte de operações, revisão documental, acompanhamento de viagens e, agora, no atendimento a famílias, as apoiando para que o processo de mudança seja feito de maneira segura e digna, protegendo seus direitos.
“Passei a ter muito contato com compatriotas venezuelanos por aqui. Quando eles têm dúvidas, sempre explico todos os procedimentos da viagem e dos processos. E eles me agradecem. Eu e minha família passamos por isso, migramos e recebemos ajuda. Não posso ser egoísta e não ajudar outras pessoas”, declarou.
Com o passar dos anos, muitos momentos marcaram Heldrid durante as viagens que realizou pelo trabalho, como o que ele e a tripulação da aeronave se mobilizaram para um bebê receber atendimento médico em Brasília para recolocação de uma sonda alimentícia que havia se deslocado. Assim como o de uma criança que foi para São Paulo junto com a mãe para o tratamento oncológico.
“Vi muitos reencontros também. Lembro de uma mãe com cinco filhos, que iria para Goiânia. Ajudei a segurar e acalmar uma das crianças durante todo o voo. Era de madrugada quando chegamos na casa do pai deles, que era o receptor. Quando se viram e se abraçaram, me emocionei muito. São momentos que marcam”, acrescenta.
VOLTA NA TERRA – Mesmo acompanhando tantas histórias de vida, Heldrid se surpreendeu com a própria: em decorrência dos deslocamentos de avião, ônibus, carro e outros meios de transporte com as famílias até os seus destinos, recebeu uma notificação no celular informando que havia percorrido trajetos equivalentes a uma volta e meia no Planeta Terra!
O aplicativo contabilizou os 46 voos realizados com embarque em Boa Vista, mais de 1.300 quilômetros de estrada por ônibus e 56 quilômetros a pé feitos entre embarques e desembarques. Ao todo, foram 58 mil quilômetros percorridos.
“Nunca imaginei algo assim! Saindo de Boa Vista, foram dezenas de voos, sem contar as trocas de avião numa mesma viagem, que geralmente são três ou quatro. E muitos quilômetros caminhados durante as viagens... não me lembrava de ter andado tanto! É realmente um marco”, celebra.
Para o futuro, Heldrid planeja continuar apoiando os compatriotas com o trabalho realizado na OIM. “Fiquei encantado com o Brasil. Estou feliz aqui”, completou.
As atividades da OIM em apoio à Estratégia de Interiorização contam com o apoio do Escritório de População, Refugiados e Migração (PRM) do Departamento de Estado dos Estados Unidos da América.